Há um grave problema de falta de estacionamento na Freguesia de Amora, com especial incidência na zona circundante à Estação de Comboios da Fertagus (Foros de Amora e Cruz de Pau). A solução, acredita o Executivo da Junta de Freguesia de Amora, está na abertura gratuita aos utentes do parque de estacionamento A3, por parte da Fertagus.
São 10 horas da manhã. O caos da hora de ponta já desacelerou na zona da Avenida Dr. Luís de Sá.
Ainda assim, há problemas que se mantêm durante o dia e que passaram a ser rotineiros, no quotidiano, de moradores, comerciantes, utentes dos comboios e daqueles que estão apenas de passagem.
Há horas críticas.
E as que ladeiam as 7 e 9 da manhã, e as 17 e as 19h, tornam-se, especialmente, desafiadoras para quem vai para o local de trabalho e para quem regressa da jornada laboral.
Na zona de Vale de Gatos, há um jogo de caça... ao lugar: quando alguns moradores se preparam para sair, outros – os que usam o comboio para as suas deslocações diárias - estão já à espera para conseguirem o tão difícil local para deixar a sua viatura. Durante, pelo menos as 12 horas, que vão desde a hora de apanhar o comboio até à hora de chegarem no mesmo, há todo um processo de exaustão e desespero para se garantir um lugar seguro e próximo. Tarefa que se torna impossível, quando os locais designados para ocupação devida deixam de existir, e os automóveis preenchem passeios e faixas de rodagem, usurpando lugar até aos peões.
O cenário complica para quem ,durante o dia, procura a zona para fazer as suas compras no comércio local ou deslocar-se à sua própria habitação. A viagem acarreta um infindável números de voltas, cuja acção só é quebrada quando, em jeito de milagre ou sorte, surge um recanto onde estacionar.
“As pessoas qualquer dia deixam de vir aqui às compras por falta de lugares para estacionar”, lamentam os comerciantes da zona.
O cenário repete-se no regresso do trabalho. Mas desta vez, são os moradores que desesperam por terem um local de estacionamento perto das suas habitações. Isso implica, mais uma vez, várias circunvalações nas imediações da urbanização até que, algum dos veículos que chegaram de manhã, possam deixar um lugar livre.
O cenário repete-se noutra zona, também ela próxima, da Fertagus.
No Largo da Rua Luz Soriano – junto ao Centro Comercial Girasol – as dificuldades de estacionamento estão lado a lado com as de (in)segurança rodoviária que atinge a Escola Básica n.1 da Cruz de Pau, onde o passeio é quase inexistente e o que existe é usurpado pelos veículos.
“Senhor Presidente, têm de ver o que podem fazer pela nossa zona, é que mesmo sinalizando, há carros aqui que não são dos moradores nem de quem aqui vem às compras”, ouve-se uma voz do alto de um primeiro andar enquanto a comitiva autárquica visitava a zona.
A falta de estacionamento enche o “livro de reclamações” tanto de moradores e comerciantes,como também de quem precisa de se deslocar para os empregos de transportes públicos.
Os motivos de se levar automóvel para o comboio listam-se rapidamente: transportes públicos deficitários, em termos de oferta e horário; maior conforto na viagem e porque o automóvel é meio facilitador quando se tem ainda de deixar filhos nas creches ou escolas. A estas justificações junta-se uma outra: a entrada em vigor dos novos preçários e do novo passe. O decréscimo no preço mensal do passe, levou a um acréscimo, na ordem dos 25%, na procura do comboio. Fazendo aumentar a pressão nas áreas envolventes da estação de Foros de Amora.
Mais de 800 lugares sem uso
As evidências gritantes, por bolsas de estacionamento, capazes de dar resposta às necessidades da zona, tornam-se ainda menos compreensíveis quando, nas imediações, existe um parque (A3) preparado para receber 850 veículos dos utentes dos transportes públicos, mas que se encontra… fechado.
As ofertas cingem-se aos auto-silos ou estacionamento exterior (A1 e A2), disponibilizados pela Fertagus – e que não são usado até ao seu limite devido ao pagamento exigido. Sendo a opção, mais económica, o estacionamento, escasso, das urbanizações limítrofes.
“Infelizmente, a Fertagus tem parques completamente vazios. Pese embora, várias reuniões que tivemos com esta entidade, a verdade é que os parques não foram cedidos para o serviço público”, esclarece o Vereador José Carlos Gomes. Para o responsável pelo Pelouro das Obras Municipais, Fiscalização e Trânsito da Câmara Municipal do Seixal, “isto é uma injustiça tremenda”.
Para aliviar o desespero dos moradores e comerciantes, a Câmara Municipal do Seixal vai criar, num terreno camarário contíguo à Rua Luz Soriano, um parque exclusivo para moradores e comerciantes. Mas o problema, no entender de Manuel Araújo, “resolver-se-ia, sem dúvida alguma, com a abertura gratuita, por parte da Fertagus, dos seus parques de estacionamento aos utentes”.
Para o Presidente da Junta de Freguesia de Amora, isso seria meio caminho para “se poder regular o estacionamento da área envolvente e, a partir daí, conseguir-se disponibilizar bolsas de estacionamento reservadas para moradores e comerciantes”.
Enquanto isso, Junta de Freguesia de Amora e Câmara Municipal do Seixal, unem esforços no sentido de requalificar a área envolvente, num circuito que envolve as Ruas Luz Soriano, do Soutelo e Largo da Cruz de Pau. Os projectos – para as questões de estacionamento e outras melhorias do Espaço Público - já existem e vão sair do papel entre os meses de Março e Abril, deste ano, com o início da construção do Parque na Rua Luz Soriano.
Comissão de Utentes exige estacionamento grátis
As reivindicações efectuadas, por parte da Câmara Municipal do Seixal e Junta de Freguesia de Amora, encontram, como parceiros de luta, a Comissão de Utentes dos Transportes Públicos do Seixal.
Em Novembro de 2019, a Comissão lançou um abaixo-assinado (https://peticaopublica.com/mobile/pview.aspx?pi=CUTSeixal) reivindicando um conjunto de medidas que promovam a “gratuitidade dos parques de estacionamento junto das estações da Fertagus (e do terminal fluvial da Transtejo)” e exigindo “tratamento não discriminatório dentro da Área Metropolitana de Lisboa (AML) entre munícipes, uns com acessos gratuitos a parques e outros não”. O objetivo é que o assunto possa ser levado à Assembleia da República.