Entrevista a  Fernando Morgadinho | Direcção SFOA

Entrevista a Fernando Morgadinho | Direcção SFOA

“Tem sido possível manter a SFOA com a ajuda da Junta de Freguesia de Amora”

Fernando Morgadinho é o rosto da resiliente Direcção que assumiu os destinos da Sociedade Filarmónica Operária Amorense. Com 123 anos de existência, a SFOA mostra que, apesar de, as raízes terem início na indústria vidreira, a sua capacidade de enfrentar os desafios (como o que agora atravessam com esta luta colectiva contra um vírus que tem destruturado o mundo), não é frágil como vidro fundido, mas adaptável como a matéria moldável que lhe dá corpo.
Detentora de um património imaterial riquíssimo, a SFOA mantem as portas abertas e vai-se adaptando aos tempos. Quais as novidades que se podem esperar de uma centenária, foi o que a Junta de Freguesia de Amora quis saber.

JFA – 123 anos: como se renova e revitaliza uma colectividade com todo este tempo de existência, nos tempos que correm?
SFOA - Imaginação e resiliência.

JFA – Os tempos não têm sido fáceis: quais foram e são os maiores desafios nestes tempos de pandemia e como têm sido ultrapassados?
SFOA - Existem algumas situações derivadas da pandemia que temos sido capazes de ultrapassar, como é o caso do financeiro. Até hoje tem sido possível manter a Sociedade com a ajuda da Junta de Freguesia de Amora e Câmara Municipal do Seixal. Sem estes organismos não era possível. Outro desafio é que, quando as modalidades reabrem, fazem-no sempre com menos atletas do que quando encerrou.

JFA - Até que ponto a pandemia vos trouxe uma oportunidade de se reinventarem?
SFOA- A pandemia, como em todas as crises, trouxe-nos lugar a uma aprendizagem. Houve espaço para preparar situações que não tinha sido possível no funcionamento normal, como informatizar vários setores que estavam um pouco obsoletos; e preparar a reabertura de algumas atividade que, quando encerraram, já não estavam com muita saúde (as matinés). Vamos apresentar algumas alterações em relação ao que eram dantes.

JFA – Que apostas têm agora, para atraírem os jovens?
SFOA - É intenção desta Direção projetar alguns acontecimentos para trazer jovens à Sociedade. Temos estado a modernizar vários equipamentos para ir ao encontro de curiosidade e necessidade da juventude.
Como exemplo, existe a intenção de efetuar uma competição de jogos de consola, tirando proveito das condições existentes

JFA – A Banda da SFOA conheceu recentemente um novo Maestro. Com esta regeneração de ideias, que objectivos pretendem que sejam alcançados?

SFOA – O objetivo da Escola de Música é a formação de músicos para ingressarem na banda de forma a que se toque com maior número de elementos possível. A banda neste momento está mais preparada para efetuar saídas pelas ruas da cidade. A circunstância não tem deixado mas assim que for possível iremos com certeza ver a banda mais vezes na rua.

JFA – Em termos de modalidades, haverá novidades em breve?
SFOA - Como sabem a Sociedade está muito ligada à Cultura. Mantemos as mesmas modalidades que tínhamos antes da pandemia embora com um decréscimo de alunos. Este abre e fecha, não nos tem beneficiado em nada. Iremos ter no início da nova temporada (Setembro) algumas novidades, com outras modalidades, como por exemplo: danças africanas. Assim como equacionamos a utilização do nosso espaço para variadíssimas iniciativas de eventos relacionadas com Danças e Teatro. E com a aproximação que existe entre a colectividade e a autarquia da Amora, deverá num futuro breve, haver vários acontecimentos produzidos em conjunto tirando proveito da experiência e conhecimento de ambas as entidades.

JFA - Em termos de números: quantos sócios contam até ao momento?
SFOA - O número de sócios andará pelos 600 sócios. A procura que tem existido neste momento é muito fraca mas tem havido pedido de informações para todas as modalidades.

Sabia que…

…a designação inicial da SFOA foi “Sociedade Filarmónica dos Operários da Fábrica de Garrafas de Amora”? Isto porque, na sua origem esteve a Companhia da Fábrica de Vidros da Amora.

… o Coreto que se encontra na marginal da cidade, foi mandado construir por subscrição pública dos sócios da SFOA? Isto acontece num dos períodos de prosperidade da colectividade no ano de 1907.

…foi graças ao grupo de teatro que a SFOA conseguiu fazer frente à duas graves crises financeiras que quase a encerraram? Em 1916, em plena I Guerra Mundial, e com a saída dos alemães da fábrica, a indústria vidreira na Amora conheceu uma nova crise. Foi com o seu vogal, Libânio dos Santos, que o grupo dramático “Os Incansáveis”, sob a direcção de Manuel Rodrigues Monteiro, levou à cena dois espetáculos, com os quais se conseguiu pagar as rendas em atraso. Mais tarde, no final dos anos 20, e com o encerramento da indústria vidreira e a saída de muitos garrafeiros para outras zonas do país, foi o grupo de teatro “Os Persistentes” (constituído por trabalhadores corticeiros, agora), que salvou a SFOA com as suas peças.

… a primeira marcha popular de Amora desfilou pelas ruas no ano de 1940? Ensaiados por Baptista Cunha, a marcha reunia-se na Quinta do Engenheiro ou Vinha Grande, e desfilou, por época dos Santos Populares e do aniversário da colectividade, acompanhado por um grupo de oito músicos.

…. além do teatro, o cinema foi uma das principais actividades da SFOA? Nos anos 60/70, a colectividade, já nas novas instalações (e que duram até aos dias de hoje e foram construídas em terreno cedido pela benemérita D. Branca Saraiva de Carvalho) que a população começou a ter acesso às películas que faziam sucesso na época, como “Sansão e Dalida” e “Os 10 Mandamentos”.


*informações retiradas do livro “Amora: Memórias e Vivências D’Outrora”, do Prof. Manuel Lima
** imagens de arquivo, site Raízes de Amora e Foto Messias

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