O artista urbano amorense Paulo Carreira assinou o memorial de evocação aos que ajudaram a construir a cidade de Amora. Desde Pedro Eanes Lobato às alusões aos Operários da indústria corticeira e vidreira, o mural do Cemitério da Amora é agora um espaço de arte e homenagem.
O extenso muro, que sustenta as terras do Cemitério Paroquial de Amora, fazendo seguimento com as paredes da Casa Mortuária e fronteiriço à Rua de Cacheu, deixou o seu aspecto alvo.
Na parede branca, ergueu-se alguma cor, mas é o preto e branco que enaltecem as memórias.
“Tendo por base o livro Amora: Memórias e Vivências d'Outrora quisemos aqui prestar uma homenagem a todos aqueles que fazem parte da história da Amora”, justifica Manuel Araújo, presidente da Junta de Freguesia de Amora.
Assim, fazendo recurso a imagens antigas e aos meandros (pouco conhecidos por grande parte da população) da história da Amora, começou a nascer o mural “In Memorium”.
“A história da cidade tem uma riqueza enorme e era impossível colocar tudo nesta parede (embora ela também seja de dimensões generosas), coloquei o que consegui e achei mais facilmente reconhecível e deixo no final uma referência ao livro que abrange tudo o resto que fez e faz a Amora a Freguesia que é hoje”, explica Paulo Carreira.
Durante uma semana, o multifacetado artista, nascido nos Foros de Amora, fez do grafitti a arte suprema e dos transeuntes recebeu “muitos e bons retornos, de forma geral, quem passava e começou a perceber o que estava a ser feito, vinha elogiar e parabenizar o trabalho o que, como artista me deixa orgulhoso e satisfeito”.
Estratégia de Requalificação do Espaço Público
A destruição de Espaço e Equipamento Públicos e Particulares, com as chamadas tags, tem sido alvo de atenção e procura de criação de soluções, por parte do Executivo da Junta de Freguesia de Amora.
Este mural é um dos exemplos, “que se integra na estratégia que temos de requalificação do Espaço Público, especialmente espaços que, como este, estavam bastante degradados”, adianta Manuel Araújo, presidente da Junta de Freguesia de Amora.
“A poluição, tanto visual, como sonora e ambiental, na cidade é um problema que afecta a todos e que desvaloriza o património e a própria cidade; a par disso, temos jovens que se querem e necessitam expressar enquanto artistas e, por isso, é importante criarmos oportunidades e espaços legais e comunitários para que possam dar azo à sua criatividade sem que para isso se destrua propriedade alheia”, reforça o autarca, que adianta a criação de uma parede comunitária vocacionada ao uso por grafitters.
Neste sentido, Manuel Araújo, “considera ser, igualmente, importante dar a oportunidade a artistas da terra para mostrarem a sua arte e ao mesmo tempo embelezar o espaço público” – como o caso do Paulo Carreira, que nasceu nos Foros e depois de algum tempo a morar no Canadá, regressou com mais poder sobre as técnicas do grafitti e vontade de trabalhar na sua cidade.
A Arte Urbana tem assumido uma faceta mais cultural e menos ilegítima, com o reconhecimento de alguns artistas que fazem das paredes comuns uma tela a céu aberto, como é o caso de Vhils. O que tem contribuído, de igual forma, para o surgimento de iniciativas que permitem a divulgação deste universo da cultura citadina e transformá-lo em parceiro e não adversário das infraestruturas de uma cidade.
Para o próprio Paulo Carreira, tal é visto com bons olhos. “Os tags e o grafitti feito às escondidas das autoridades é o que deu origem a que muitos de nós crescêssemos e nos tornássemos o que somos, enquanto artistas urbanos. Os tempos mudam, e em vez de ser proibido, o caminho é mesmo permitir espaços onde os grafitters possam criar”.
Ao mesmo tempo que essa oportunidade é dada, com a pintura programada de vários espaços na freguesia, numa outra frente, a Câmara Municipal do Seixal, através do seu Gabinete de Participação, tem desenvolvido um projecto de remoção das tags das paredes e muros por forma a manter a cidade mais limpa.
