João Batalheiro é um nome reconhecido pelo seu extremo profissionalismo e dedicação, na área da Saúde Familiar, junto da comunidade da freguesia de Amora. É, igualmente (ao lado da Professora Carla Mata), um dos responsáveis pelo convite para que a formação, “Mala da Prevenção, Dr. Luís Patrício”, acontecesse no nosso território.
Numa breve entrevista, tece o retrato de uma Freguesia (e Concelho) onde garante haver um isolamento crescente do trabalho de prevenção e educação para Saúde - que urge recuperar. Por isso, para o médico de Saúde Familiar da USF Amora Saudável, esta ação de formação encaixa-se no perfil de despertar de consciências para a necessidade de intervenção e prevenção e uma oportunidade imperdível, por parte da comunidade de forma geral, para adquirir ferramentas capazes de dessa capacidade de antecipação em temas relacionadas com o mau uso de substâncias psicoativas.
JFA- Como surge este convite e vontade de trazer o projeto “Mala da Prevenção” à Freguesia de Amora?
JB - A Mala da Prevenção é um projecto do Dr. Luís Patrício, o qual conheço desde os anos de 90, numa das suas muitas apresentações. Durante a epidemia, voltei a estar em contacto com o Dr. Luis Patrício, em web meetings, com vários colegas de múltiplas nacionalidades. Dai surgiu a ideia de promover um encontro da Mala da Prevenção aqui na freguesia de Amora, por iniciativa da Professora Carla Mata.
JFA – O que distingue este projeto dos outros e porque deve ser tido como uma mais valia para profissionais e comunidade de forma geral?
JB - Este método baseia em actividades proactivas que promovem a reflexão e desmistificação sobre múltiplos temas relacionados com o mau uso de substâncias psicoactivas como o álcool, por exemplo.
É uma metodologia que desafia as pessoas a parar e pensar sobre os riscos e danos o consumo abusivo de substância psicoactivas, ajudando a desenvolver um espírito critico sobre esta temática e criar pontes entre as várias instituições e organizações comunitárias.
JFA – Quando fala nesse isolamento, que não contribui para a prevenção: é apenas esse o “culpado” de falta de políticas mais preventivas em termos de saúde?
JB - O maior inimigo da prevenção, de todos os problemas comunitários, é a ignorância. Junte-lhe depois a intolerância e a arrogância dos decisores.
JFA – Enquanto médico de Saúde Familiar no Concelho, que descrição faz do território ao nivel de comportamentos aditivos?
JB - Como sabe existem vários bairros problemáticos no concelho do Seixal. E, actualmente, o consumo de substâncias psicoactivas continua a aumentar, junto das camadas jovens e não só. Durante anos estive envolvido numa série de projetos transversais e multidisciplinares, em envolvimento com a Câmara Municipal do Seixal, Escolas, PSP, Comissões de Moradores, Associações Culturais e Desportivas, Centro Paroquial de Amora, Criar-t. Com eles, realizei um trabalho interessante nos bairros da Quinta do Cabral, Quinta da Princesa e Vale dos Chícharos. Organizei um consulta de apoio a comportamentos aditivos. Mas, em 2008, com a reestruturação dos Cuidados de Saúde Primários integrei a Unidade de Saúde Amora Saudável e deixei de intervir nas comunidades.
Isto tudo para dizer que, as instituições, alegando problemas de segurança, fecharam-se. Neste momento, não conheço as iniciativas comunitárias que se desenvolvem no terreno. O trabalho de Prevenção e Educação para a Saúde está muito isolado. Mas considero ser muito importante não “tapar o Sol com a peneira” e entendo, neste sentido, que a Educação para a Saúde é um processo dinâmico e permanente - como o é a vida das comunidades.
Biografia:
Dr. João Batalheiro
Médico há 40 anos.
Especialista em Medicina Geral e Familiar.
Natural de Alfeizerão.
Coordenou o Núcleo de Educação para a Saúde do Centro de Saúde do Seixal.
Dinamizou a Rede Incluir do Centro de Saúde de Amora, onde promoveu reuniões que integravam as escolas do Concelho do Seixal, com professores de Educação Especial.
Desde 1999 é Consultor em Medicina Geral e Familiar.
Orientador do Internato Médico da Especialidade em Medina Geral e Familiar.
Coordenador do Núcleo de Saúde Mental e do Núcleo de Diabetes da USF Amora Saudável.
Presta cuidados de saúde de excelência há 30 anos com uma consulta de comportamentos aditivos no Centro de Saúde de Amora.