A Associação de Paralisia Cerebral Almada Seixal – APCAS, reuniu sete formandos que estão de olhos postos numa nova profissão: Assistentes Pessoais de Pessoas com Deficiência. A formação decorreu no Auditório da Junta de Freguesia de Amora e contou com testemunhos de vida que mostram os dois lados da mesma história.
Querem liberdade, independência e alguém que os acompanhe e ajude a terem uma vida mais normal, dentro das suas limitações, sem terem de imputar essa responsabilidade, de forma total, à família. São pessoas que sofrem de alguma forma de patologia que lhes afecta a autonomia, fazendo-as depender de terceiros. Por forma a dar resposta a esta necessidade, a APCAS - Associação de Paralisia Cerebral Almada Seixal, lançou a formação de Assistentes Pessoais.
CAVID é a sigla para Centro de Apoio à Vida Independente e sinónimo de independência para os beneficiários deste projecto que encontra na APCAS um dos pólos de implementação.
“O objectivo é facilitar e promover a inclusão das Pessoas com deficiência na comunidade”, resume de forma muito convicta Ana Barradas . Formadora e Técnica Superior de Reabilitação Psicomotora, para a área do Desporto, Educação e Cidadania da associação promotora da formação.
Através do CAVID “os beneficiários desenham o seu projecto de vida e depois é-lhes afecto um Assistente Pessoal – que poderá trabalhar com um ou vários beneficiários, de acordo com as necessidades desenhadas”, explica a jovem técnica.
Este projecto conta com um ano repartido entre formação e entrada no activo, o que aconteceu em Fevereiro de 2020, tendo ficado suspenso em Março, devido à pandemia, mas estando a retomar agora com os devidos cuidados e medidas e de acordo com a vontade dos beneficiários”, explana Ana Barradas.
Apesar do escasso tempo de experiência efectiva no campo, fazem-se balanços positivos.
Da parte da formadora, há uma visão de que “este projecto tem sido fantástico porque os Assistentes Pessoais têm mudado a vida das pessoas com deficiência porque lhes é permitido fazer coisas que não conseguiam ou de que dependiam da família e não queriam incomodar”. Além disso, concorrem para um segundo propósito “serem os olhs da APCAS na comunidade, ajudando-nos a quebrar as barreiras que detectem”.
E da parte de beneficiários e profissionais? Parece que o balanço é, igualmente, positivo.
Rafaela e Carla: testemunhos na 1ª pessoa
Ana Rafaela Cruz é uma das 25 beneficiárias que a APCAS segue através do projecto CAVID.
Tem 31 anos. O equivalente a dizer que, durante estes anos, “tenho dependido da minha mãe para tudo. Basicamente, ela vivia duas vidas: a dela, que tinha de conjugar com a minha, sendo que a minha mãe tinha o trabalho dela e, além disso, o trabalho de me ajudar a preparar”, relata a jovem administrativa.
Por esse motivo, mal soube do projecto, fez o seu plano e incluiu um Assistente Pessoal para ser “a extensão dos meus braços e pernas”, para atingir dois motivos: “vivenciar novas coisas, experimentar novas aventuras e até descobrir gostos que não sei e terei ou não e, por outro lado, para que as pessoas à minha volta ganhem tempo útil para elas mesmas e não estarem tão dependentes dos meus horários”.
Este altruísmo e vontade de ser mais independente – até porque “ter um assistente pessoal ou ter algum familiar de quem dependemos 24 sobre 24 horas, é muito diferente” - encontra no Assistente Pessoal, a sua concretização.
No caso de Rafaela, é Carla Filipe, que assume este papel.
“Fui muito bem recebida pela Rafaela e pela família dela e, apesar de ser pouco tempo a exercer esta função, sinto-me muito mais enriquecida porque nem parece que vou trabalhar, mas sim fazer voluntariado”, confessa a Assistente Pessoal.
Os Assistentes Pessoais podem estar afectos a apenas um beneficiário, abrangendo um horário laboral comum de 40 semanais; ou a vários beneficiários, em regime parcial.
Mas desengane-se quem pense que “tudo é um mar de rosas”.
Rafaela admite “que há dias menos bons, porque somos pessoas como as outras e temos os nossos feitios e momentos”, posição corroborada por Carla que garante que “há dias mais difíceis que exigem emocionalmente muito de nós”.
O segredo, para quem quiser abraçar esta nova profissão, está “na empatia e preocupação pela condição e dignidade humanas”, assegura Carla Filipe. “É que, chegar a casa ao final do dia e sabermos, mesmo num dia menos bom, que somos a extensão de uma pessoa que se torna mais ela porque nos tem, é demasiado gratificante e supera qualquer obstáculo”.
Para mais informações, consulte a APCAS (https://paralisiacerebral.pt/).